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Diversidade e inclusão nas empresas: por que devemos nos posicionar?

“Temos que entender mais o que é racismo estrutural. O dia que entendi até chorei, porque sempre achei que não era racista até entender o racismo estrutural” – Luiza Trajano, dona da rede Magazine Luiza, no programa Roda Viva.


Em setembro de 2020, o tema diversidade e inclusão nas empresas tomou conta das redes sociais. Tudo aconteceu depois de um processo seletivo para trainees conduzido pela Magazine Luiza — concluído em janeiro de 2021 — que procurava jovens negros para assumir posições de liderança na varejista.

O assunto foi motivo de polêmica. O Ministério Público precisou indeferir uma série de denúncias de discriminação contra a empresa. A conclusão da instituição foi que o programa de trainee não se tratava de uma violação trabalhista, mas de uma ação afirmativa de reparação histórica, prevista em lei.

Felizmente, a Magalu não está sozinha. Além do apoio de inúmeras instituições focadas em ações afirmativas, a companhia indiretamente promoveu o debate e estimulou muitas outras empresas a fazerem o mesmo. 

Afinal, por que os gestores e líderes devem debater e se posicionar sobre o assunto? Se aprofunde nessa temática com a gente!

O cenário da diversidade e inclusão nas empresas

De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 54% dos brasileiros são negros e 51,5% são mulheres. Hoje, não vemos esta proporção representada nos cargos de liderança em muitas empresas. 

Ainda levando em conta dados divulgados pela instituição, os negros recebem 31% a menos que brancos e encontram mais dificuldades para encontrar empregos.

Outro estudo, desta vez realizado pela revista HSM Management em parceria com a Opinion Box, aponta que: 

  • 29% das organizações entrevistadas não possuem pessoas com deficiência em seu quadro de funcionários;
  • 44% não possuem profissionais transsexuais;
  • 37% dos profissionais entrevistados já sofreram algum tipo de discriminação no ambiente de trabalho;
  • 34% das empresas possuem menos de 5% dos funcionários com 50 anos ou mais.

Foi para corrigir situações como essa que a Magazine Luiza criou o seu processo seletivo. Ao levantar o censo da empresa, foi identificado que apenas 16% das lideranças eram negras. 

Inúmeras iniciativas foram desenvolvidas para solucionar o problema, mas sem sucesso. “Eles não entravam porque a partida é desigual”, afirmou Luiza Trajano no Roda Viva, ao lembrar de outros programas de seleção realizados pela companhia.

Além da varejista, outras companhias também desenvolveram programas voltados para a diversidade. Credicard, Atento, Coca-Cola, B2W, Nubank. Isso apenas para citar alguns exemplos. O movimento ganha força a partir do momento em que as empresas e a própria sociedade passaram a ver valor nesse tipo de ação.

Os impactos positivos para a inovação e a cultura

Quem trabalha com inovação, experiência do usuário e produtos digitais sabe que a diversidade tem uma grande conexão com a qualidade de entrega para o usuário final.

Isso acontece porque os projetos nestas áreas não têm a finalidade primária de criar novas soluções tecnológicas: acima de tudo, nossas criações existem para melhorar a qualidade de vida de outros seres humanos, criar experiências marcantes e entregar valor — e isso jamais pode ser esquecido.

O foco é human-centric. E isso significa que somente respeitando a pluralidade de pensamentos, ideias, opiniões, modos de agir, orientação sexual e credos, podemos criar uma cultura realmente inovadora. Nesse sentido, a diversidade e inclusão nas empresas apenas traz benefícios, conforme veremos a seguir.

Promover impacto social

Missão, valores e visão. Muitos já estão cansados de ouvir sobre os três pilares do planejamento estratégico, fundamentais na área de administração e que norteiam as organizações. 

A diferença é que nunca foi tão importante tirar esses princípios do papel. As empresas não devem apenas dizer, devem ser. O consumidor espera ação e participação social ativa. 

Promover o impacto social já é, por si só, um grande benefício de se explorar as possibilidades da diversidade e inclusão.  

Fortalecer a segurança psicológica para uma inovação consistente

O que significa criar um ambiente com segurança psicológica? Basicamente, a ideia é acolher as pessoas e deixá-las livres para serem quem são. Dessa forma, conseguimos estimular a participação e a pluralidade de ideias.

A empresa precisa estimular esse tipo de cultura. Nesse sentido, algumas organizações criaram seus departamentos de diversidade e inclusão. O propósito não é apenas desenvolver processos de recrutamento mais plurais, mas também fomentar a inclusão internamente.

Criar produtos de pessoas para pessoas

Um grupo homogêneo encontra muita dificuldade para explorar todas as intenções e perspectivas do usuário. Isso blinda o processo de criação e limita as possibilidades.

Na grande maioria dos casos, o mercado é plural. Por isso, é muito importante criar um ambiente interno igualmente plural para cercar todas as realidades do próprio público para quem se faz os produtos ou se presta os serviços.

Desenvolver uma visão estratégica de longo prazo

É muito importante lembrarmos que a sociedade está mudando. Pensar em diversidade e inclusão também é um pensamento estratégico, agregando desenvolvimento, valor de mercado e até mesmo o crescimento da organização.

Diversidade e inclusão: diferenças sutis, mas importantes

Entender o que é diversidade e o que é inclusão também é fundamental para melhorarmos a cultura organizacional e nos posicionarmos com mais precisão neste tema.

Quando falamos sobre o caso da Magazine Luiza, estamos diante de uma iniciativa focada na diversidade. No caso, o que a empresa espera é uma representação demográfica interna que seja mais compatível com a realidade do país. O processo seletivo, no caso, é a ação que ela desenvolveu para conseguir esse objetivo.

A inclusão é um passo adiante. Incluir significa acolher e criar um senso de pertencimento nos colaboradores da companhia. É agregar e oferecer as ferramentas necessárias para que possam participar, fornecer suas ideias. Não há, portanto, diversidade sem inclusão.

Para isso, é muito importante trabalhar a cultura da companhia, educando os colaboradores e promovendo a participação de todos. Além disso, é preciso criar iniciativas para que todos consigam partir do mesmo lugar.

Alguns exemplos que podemos listar são: 

  • o iFood, que criou cursos de programação gratuitos para pessoas de baixa renda; 
  • a própria Magazine Luiza, que fornecerá capacitação para os selecionados em seu processo seletivo, com o objetivo de corrigir desigualdades;
  • o Google, que removeu o inglês como obrigação nos seus processos seletivos de estágio e oferece bolsas para o aprendizado da língua.

Como fomentar a diversidade e inclusão nas empresas?

Começar não é fácil, mas cada passo nesse sentido é importante. Para fomentar a diversidade e a inclusão, é preciso abandonar velhos hábitos e mudar um pouco a mentalidade e a cultura da organização. A seguir, trouxemos alguns insights que podem ajudá-lo nesse processo.

Repense os processos seletivos

Como vimos, o Google precisou repensar a exigência da língua inglesa em seus processos seletivos para que pudessem contemplar a diversidade. 

Com as desigualdades presentes no país, muitas vezes as exigências criadas no recrutamento acabam excluindo muitas pessoas. É preciso equilibrar aquilo que é essencial.

Fortaleça a diversidade entre as lideranças

Quando focamos apenas no quadro de funcionários, podemos criar distorções. É o caso da Magazine Luiza: apesar de 53% da equipe ser negra e parda, apenas 16% ocupavam cargos de liderança. 

Veja: é preciso que todos estejam representados nos cargos mais altos. Isso é fundamental para acabarmos com possíveis vieses discriminatórios dentro da empresa, além de fazer com que todos se sintam representados.

Crie grupos de afinidades

Você já deve ter visto por aí uma série de grupos sendo formados. Um bom exemplo é o Mulheres de Produto. Como o nome sugere, o grupo promove reuniões, debates e cursos para mulheres da área de produtos digitais.

Os grupos de afinidades são criados para fortalecer laços, o acolhimento e a representatividade de pessoas por gênero, LGBTQI+, PcD ou etnia, por exemplo. Podem ser organizados pelo Recursos Humanos ou pelo Departamento de Diversidade e Inclusão.

Promova a segurança e o acolhimento

Para fechar, é preciso criar uma ambiente de acolhimento e segurança psicológica — conforme já abordamos anteriormente. Como fazer isso? Com políticas internas.

Essas políticas podem contemplar desde ações concretas, como o fomento de capacitação para reduzir desigualdades, até indiretas, como eventos educativos para os colaboradores.

Como pôde perceber, a diversidade e inclusão nas empresas é um tema atual e urgente. O passo é fundamental para que a sua empresa cause impacto social e tenha um terreno fértil para a inovação.

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