Como a Transformação Digital na China promete mudar todo o mercado
Você já deve ter familiaridade com o termo Transformação Digital — e arriscamos dizer que atualmente ele está um tanto desgastado.
Isso acontece porque quando a expressão foi cunhada, as tecnologias emergentes ainda eram difíceis de serem tangibilizadas.
Entretanto, a China está ressignificando o conceito e atribuindo novos valores. O foco, além do desenvolvimento dessas mesmas tecnologias, hoje em nível mais alto de maturidade, está tratando de modelos de negócios.
E em um cenário de abertura econômica, nunca foi tão fácil olhar para além da muralha e observar os avanços propiciados pela Transformação digital à moda chinesa.
Mas quais são os sinais que evidenciam todo esse potencial da China?
China em números
A China abriga cerca de 1,4 bilhão de pessoas, o equivalente a ⅓ da população de todo o planeta. Ser o país mais populoso não é exatamente novidade para a China, mas foi só recentemente que sua força de trabalho alçou o país ao posto de segunda economia global, com um PIB de US$ 12 trilhões.
Até o fim da década de 1980, a China era conhecida pela rigidez econômica e política externa conturbada. Desde então o país passou por transformações que refletiram no cenário das cidades e na população. De lá para cá, a reputação de hub tecnológico e econômico global se consolidaram.
Segundo o Escritório Nacional de Estatísticas, em 2011 a população urbana atingiu os 690 milhões, ultrapassando pela primeira a população do campo. Essa virada foi resultado de décadas de esforços governamentais em reformas e na abertura econômica no país.
O panorama atual das cidades mostra o impacto dessas transformações. Confira.
Smart Cities: Inteligência Artificial é o motor da nova China
A China possui uma meta audaciosa: tornar-se líder mundial em estudos, desenvolvimento e implementação de Inteligência Artificial até 2030. Para isso, o governo investiu pesado na qualificação técnica nas universidades e na criação de distritos de inovação.
A cooperação entre grandes empresas, governo e universidades é o motor do desenvolvimento. Nessa corrida tecnológica, Xangai e Pequim já aparecem como os principais expoentes da China em A.I.
Pode-se dizer que Xangai já é atualmente uma das maiores referências mundiais em Inteligência Artificial, principalmente no setor de carros autônomos. A DiDi Chuxing, empresa de car sharing, anunciou recentemente que pretende oferecer o serviço por meio de veículos não-tripulados. O governo de Xangai já autorizou os testes.
Pequim também está intensificando investimentos na área. No início de 2018, a Beijing Academy of Artificial Intelligence (BAAI) anunciou que apoiaria 100 pesquisadores em Inteligência Artificial até 2021 para impulsionar a indústria local.
No programa, cada cientista recebe cerca de US$ 74.800,00 anuais. O objetivo é oferecer benefícios capazes de atrair talentos estrangeiros e fazer um “recall” dos talentos chineses que trabalham no exterior.
Novos modelos de negócios: platform thinking e omnichannel
O combo de investimento público-privado no país fez muito bem para o desenvolvimento tecnológico e econômico chinês. Enquanto talentos como Jack Ma indicavam o caminho do desenvolvimento, o governo colaborava com incentivos fiscais e leis flexíveis sobre uso de dados.
A união deu escala aos planos chineses e permitiu a erupção de novos modelos de negócios, batendo algumas das organizações exponenciais mais bem sucedidas do Vale do Silício.
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Recentemente, o Uber precisou vender suas operações na China para a concorrente DiDi Chuxing, tamanha era a dificuldade em competir no mercado chinês.
A DiDi, que possui base de 450 milhões de usuários, chegou a ultrapassar o valor de mercado do Uber. A empresa chinesa também tem participação majoritária na brasileira 99 avaliada em mais de US$ 1 bilhão, mostrando que novos mercados estão na ordem do dia.
Esse é o potencial dos novos campeões chineses.
Platform thinking e omnichannel
A troca de informações entre o governo e a iniciativa privada bebe da fonte do platform thinking, um tipo de modelo de negócios de co-criação de soluções entre duas ou mais partes interessadas para gerar diferencial competitivo.
Cientes das próprias limitações, o governo chinês contou com assessoria de grandes empresários para atingir suas metas de crescimento. Esse conhecimento adquirido além das fronteiras governamentais foi fundamental para dar tração às reformas. Essa é a base do platform thinking.
Outro exemplo de modelo de negócio bem sucedido é o da Tencent, gigante chinesa de tecnologia e holding do WeChat. Sob a batuta da empresa, o aplicativo, que antes era usado para enviar mensagens, foi acumulando funções até tornar-se um super app.
Super apps são aplicativos que possuem diversas funcionalidades. No WeChat, além de trocar mensagens, é possível sincronizar publicações em mídias sociais, realizar pagamentos, utilizar serviços de caronas e até pedir comida.
Num mundo com tantas opções, tudo vira concorrência. Para vencer essa guerra pela atenção do consumidor, a Tencent apostou no omnichannel.
O WeChat utiliza 2 princípios:
Manter o usuário dentro da plataforma – o app se propõe a suprir todas as necessidades de um dia comum;
- Integrar dados para gerar inteligência – o aplicativo centraliza informações para obter informações associadas sobre comportamento e consumo em massa.
Dessa forma, o super app conquistou seu primeiro bilhão de usuários. O modelo permitiu à Tencent até ultrapassar momentaneamente o Facebook em valor de mercado em 2017.
5G chinês põe fogo na Guerra Comercial
Você já deve ter ouvido falar no 5G, a quinta geração de conectividade móvel. A tecnologia promete impactar diversos setores do mercado e aprofundar ainda mais as mudanças comportamentais e de consumo que a internet trouxe para a sociedade.
O 5G caracteriza-se não só pela velocidade, mas por sua latência, que corresponde à taxa de resposta a determinado comando. Na conexão 4G, ela é de 10 milissegundos. No 5G, a próxima geração será apenas 1 milissegundo — uma conexão 10 vezes mais estável.
Se o 3G e o 4G propiciaram a criação de modelos de negócios como o do Uber e Airbnb, a expectativa é de que a nova geração de internet móvel impulsione a Internet das Coisas e consolide indústrias como a de veículos autônomos.
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A corrida pela dianteira do mercado 5G tornou-se um capítulo da Guerra Comercial entre EUA e China. Recentemente, a chinesa Huawei, gigante de telecom, chegou a ser banida dos EUA.
A empresa foi oficialmente impedida de atuar no país sob suspeitas de espionagem. Varejistas chegaram a cessar as importações de produtos Huawei e agências como o FBI e a CIA pediam aos consumidores que não não comprassem itens da marca.
Os EUA alegam que a medida protege os dados dos usuários norte-americanos, afirmando que o governo chinês tem acesso a essas informações. Já para a Huawei, a proibição não passa de uma manobra para eliminar um concorrente de peso.
Recentemente, a Casa Branca voltou a permitir que fabricantes norte-americanos vendam para a Huawei. Os produtos da empresa também estão de volta ao mercado americano, mas com restrições.
O que vem por aí?
As reformas chinesas estão se intensificando e o projeto nacional para chegar ao topo da economia global está entrando na fase mais aguda.
As empresas chinesas são cada vez mais capazes de abocanhar o mercado, tornando uma série de modelos de negócios obsoletos. Essa tendência irá influenciar negócios em todos os níveis: desde gigantes da tecnologia até a próxima fornada de startups.
Estamos prestes a presenciar uma nova inversão na lógica dos modelos de negócios globais — assim como fizeram Uber, Airbnb, Spotify e Netflix no início da década. Mas dessa vez devemos estar atentos ao movimento do Ocidente para Oriente: esse parece ser o caminho da disrupção.
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